quinta-feira, 25 de agosto de 2011

A sede não seca

"Você continua apto e aberto ao amor. A sede não seca. Se as coisas não aconteceram é porque não aconteceram. Pretensão sua achar que se fechou, que pode decidir, dirigir sua vida. Demita sua analista e olhe pros dois lados. Você só está perpetuando sua primeira experiência sobre o fim, cristalizando a primeira lágrima que caiu, como se tudo aquilo que acabou fosse realmente grande, infinito, definitivo.

O amor te feriu como fere uma flecha sem velocidade e impulsão. Ela cai no chão, você junta e enterra no próprio peito. É pena que quer despertar no outro, no próximo, no amado que se foi? Ninguém tem pena de você. Basta nascer para começar a sofrer, tudo é impermanente, não se iluda. O amor é gasoso, invisível, lendário, metafórico, um sonho. E como todo sonho é insólito, não pode ser cadeado em algum outro lugar que não o coração.

Seu coração não quebrou, pelo contrário, é única coisa que ficou intacta. Ele está lá, esperando por outrem. Como o meu, que pulsa melhor que antes. Um dia vou despertar e voltar a me abraçar com a solidão, estou sabendo. Por hora, não. Amanhã. Hoje, sigo sorrindo, chantageado pela minha versão atual. Toda manhã meu sonho acorda dentro de outro sonho."

Gabito Nunes

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Você lê e sofre. Você lê e sorri. Você lê e engasga. Você lê e tem arrepios. Você lê, e sua vida vai se misturando no que está sendo lido. Caio F. Abreu