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sábado, 30 de julho de 2011

Sutura *

Esse texto conheci tempos atrás no Menina Paradoxo e não tem como não gostar dos textos da Bela Teixeira...Deguste-o:

“Sem querer me machucar de novo por culpa do amor” *


Na medicina algumas coisas são aparentemente muito simples. Algo que não presta? Que não deve estar ali?! Com uma incisão precisa, corta-se, abre-se, retira-se o que não presta e fecha-se. Pontear é algo aparentemente muito simples e um dos primeiros aprendizados. Mas, suturar é uma arte! É o acabamento!

É o paciente quem vai voltar pra casa tendo que sentir as dores do procedimento e quem vai lidar com a cicatriz resultante, bela ou não. Às vezes com um dreno pra ajudar a restabelecer equilibro no que agora é um espaço vazio.

Seria ótimo que tudo fosse simples, fácil e indolor! Seria ótimo que todos os cirurgiões tivessem a maestria dos cirurgiões plásticos, que deixam marcas quase imperceptíveis. Mas, a vida não é sempre fácil. E, às vezes, pode doer muito! Não passamos por ela sem carregar algumas cicatrizes. Não há quem não as tenha!

Aquela marca de infância - o corte na lata de doce, o joelho marcado por tombos... Ou as mais sérias: os pontos daquele corte profundo quando você quebrou o vaso preferido da mamãe, a marca da cirurgia de hérnia ou de apêndice... o corte que ganhou no supercílio quando foi cabecear aquela bola na frente do gol!

Às vezes essas marcas somem. Às vezes a gente põe uma roupa que disfarça, faz uma bela maquiagem. Outras vezes ostenta como um verdadeiro troféu!

Mas... é possível ostentar um coração sofrido? Não há maquiagem que disfarce as cicatrizes deixadas por aqueles que passaram e arrancaram um pedaço da gente. Alguns, ao levarem, deixaram outro em troca no lugar, e é preciso aceitar as marcas dessa interação e um ou dois pontos para fixar. Porém poucos são os cirurgiões plásticos, apesar de bem intencionados.

Como lidar com o medo de abrir um coração tão machucado?! Depois de tantas partidas e despedidas? O medo de expor suas marcas e seus troféus.

Cicatrizes ficam bem desde que não sejam remexidas. E levam tempo pra conseguirem ser tocadas. Precisam ser devidamente drenadas e o vazio remodelado.

Sentimentos não são coisas simples. Existem sentimentos que são como tumores, que insistem em crescer se espalham e se enraízam. Às vezes dolorosos de lidar e impossíveis de remover. Sempre voltam a crescer.

Mas é possível aprender a lidar com isso. Faz parte da vida e tudo é aprendizado. Proteja-se do que for possível, aprenda do que for inevitável!

Na hora, as feridas doem, mas depois de um tempo os pontos secam... E o que era uma sutura dolorida, cumpre o seu papel [o fio que (re)une um tecido vivo que foi rompido] e junta tudo, deixando apenas uma sensibilidade diferente, que você até se acostuma e esquece que tem, até alguém notar.

Na hora da crise, analgésicos.
Na hora da festa, maquiagem e salto alto!

Se quiser me amar ou me ter na sua vida, você precisará aceitar também minhas cicatrizes. Elas são parte de mim. Você não precisa amá-las, basta que elas não te assustem e você vai acabar se acostumando e simplesmente perceber que elas são responsáveis por algumas das minhas formas e justificam algumas das minhas atitudes e muito dos meus medos.

Talvez elas apenas te lembrem de ser mais cauteloso, pois, já sofri demais, mas não me neguei a amar. E que, por conhecer bem a dor, não quero te fazer sofrer. E que entre nós haja sutura e não o corte.

"Quando se aprende a amar, o mundo passa a ser seu" *


 
 

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Adeus


Não sei dizer adeus. É muito ruim ter que partir e deixar alguém que você gostaria que continuasse ao seu lado. Despedidas nunca são fáceis. Nunca fui boa com elas. Sempre tentando adiá-las, sempre demorando. Dizem que quem muito se despede não deseja ir. A vontade é mesmo ficar. Não ser passado, não ser só lembrança. Memórias, por mais vivas que sejam, não tem calor, não permitem o toque, não deixam sentir o gosto. Gosto que procuro desesperadamente e não encontro em nada mais. Você ainda sente? Ainda lembra? Ainda é bom? Me dá só mais um minuto, um último beijo, um último abraço, um último sorriso. O que é bom devia ter fim? Se não é bom, porque tanta saudade? Porque esse vazio que nada preenche? E todos os sonhos, os planos e desejos? Como ficam? Sofrem um aborto, um parto prematuro. E partem pra onde? O que não presta não se despede, não precisa de permissão pra partir. Despedidas são uma maneira de tentar adiar o fim de algo que não devia acabar, de evitar ao máximo o ‘adeus’ – essa palavra mágica que faz as coisas subitamente desaparecerem e se debaterem vivas dentro de nós, limitadas por um tempo que não nos bastou...


“Sabe, eu acho que não sei fechar ciclos, colocar pontos finais. Comigo são sempre vírgulas, aspas, reticências. Eu vou gostando, eu vou cuidando, eu vou desculpando, eu vou superando, eu vou compreendendo, eu vou relevando, eu vou… e continuo indo, assim, desse jeito, sem virar páginas, sem colocar pontos.”
Caio Fernando Abreu
Fonte: blog Menina Paradoxo (Isabela Teixeira)

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Solidão a Dois

 
Caminhavam juntos, lado a lado, mas era como se estivessem sós. Nenhuma palavra era dita. Já não havia mais os risos nem as brincadeiras usuais. Apenas se ouvia aquele silêncio ensurdecedor, que só era interrompido pelo barulho dos seus próprios passos. Eles, que viviam abraçados, agora pareciam hesitar qualquer toque. Ele evitava os olhos dela. Ela já não sabia como reclamar atenção. Eles sequer brigavam. Ela não mais perguntou, desistiu de tentar entender e resolveu não mais desculpar as coisas de que ele não se arrependia. Ele não se incomodou em lutar por ela.

Onde foi exatamente que tudo mudou?
 
 

sábado, 28 de maio de 2011

Passado


Há um passado em mim que me torna quem eu sou. Que me explica e me dá forma. Um passado que passou, mas que é responsável e que me trouxe para o presente. Do qual sinto saudade, mas que não necessariamente queria ainda viver. Apenas recordar. Relembrar momentos. Lamentar algumas perdas e decepções. Sentir falta de algumas pessoas e circunstâncias.

Dividir o seu passado com alguém é a maior prova de confiança e cumplicidade. É revelar algo que o outro nunca precisaria saber, ou que, mesmo que desejasse, não poderia conhecer a menos que se contasse.

Cecília Meireles diz: “Os fins justificam os meios da minha cara.” Eu digo que ‘meus meios justificam o meu fim’. Eu gosto de compartilhar momentos da minha vida, minha história. Preciso dizer. Preciso de amigos pra compartilhar. Preciso fazê-los saber, conhecer um pouco mais de mim.

Sofro quando algum daqueles em quem confiei acaba por me decepcionar ou magoar. Sou resolvida a superar. Mas não sei (nem quero) ser daqueles que quando se decepcionam, repudiam o passado e todos os momentos que viveram ao lado de alguém. Repudiar os bons momentos que tive com alguém, mesmo que esses momentos já tenham ficado lá atrás, seria como repudiar uma parte de mim. Seria esquecer lembranças que são parte da minha vida.

Quando eu sofro, sofro por mim. Por uma parte de mim que se perde. Por algo que me fazia bem que deixei de ter e me fará falta. As pessoas são insubstituíveis e ninguém nunca substituirá ninguém. Mas não significa que é impossível ser feliz de novo.

Quando descobrir algo sobre mim, não deixe que seja motivo para nos afastarmos, mas que a confiança e o entendimento mais pleno, nos aproximem mais. E que as possíveis lágrimas que acompanhem histórias antigas sejam apenas para limpar os meus olhos para enxergar melhor o futuro que se nos apresenta.


“Onde quer que eu vá, levo em mim o meu passado.
E um tanto quanto do meu fim.
Todos os instantes que vivi, estão aqui.
Os que me lembro e os que esqueci...
Carrego minha morte e o que da sorte eu fiz.
O corte e também a cicatriz”
[Meio Fio – Rita Lee]

Caótico.


Cansada. Essa era a única palavra que ela encontrava para definir seu estado. Era assim que ela respondia quando alguém perguntava. Cansada de tanto pensamento, de tanto sentimento, de tanta responsabilidade. Cansada de ter que estar em dois lugares ao mesmo tempo. Cansada de não conseguir estar em lugar nenhum. Cansada de se sentir sozinha no meio da multidão. Cansada de sorrisos sem resposta. Cansada de se perder no meio de milhões de palavras incapazes de fazer sentido e traduzir sentimentos. Ela estava cansada de ter que parecer não sentir. De parecer não pensar, quando tudo que ela não conseguia era parar. “Onde é que fica o tal botão de desligar?” Tudo que ela precisava era parar. Precisava ir pra longe. Precisava ter tempo. Precisava de colo. Precisava de abraços. Precisava ir ao cinema. Precisava ouvir música. As suas músicas. Sem ninguém que reclamasse do volume ou da escolha. Ela precisava dançar, 'like no one's watching'.  Ela precisava organizar a bagunça. Ela precisava de espaço. Ela precisava desesperadamente não precisar dividir espaço. Ela precisava de espaço. E dos seus livros. Ela queria ler. Ela queria não precisar ler. E ler só porque queria, não porque precisava. Ela precisava chorar, mas isso ela não queria. Ela queria escrever. E faria isso se as palavras não saíssem descontroladas desrespeitando toda a lógica. Ela queria descansar. Cansada, sim, era isso que ela estava. Ela precisava parar, principalmente de falar de si mesma em terceira pessoa. Ela precisava urgentemente de férias.

Warm and Peaceful


Não, não me acorda! Eu quero continuar assim, quietinha, quentinha, em teus braços, no teu abraço. Deixa estar teu coração assim, pertinho do meu, batendo num mesmo compasso, sem passo, sem hora, sem pressa. Pelo menos por hoje, eu preciso acreditar que a eternidade nos pertence. Eu não quero acreditar no meu realismo. Eu quero acreditar no teu sorriso. Promete que acredita em mim? Eu quero acreditar que o mal tempo passou, mesmo que lá fora a chuva caia. Tudo bem, o frio é só mais um pretexto pra ficar no teu aconchego, sentindo teu cheiro.  Um arrepio. Diz que foi só minha imaginação aquela discussão que o motivo eu já em sei. Que foi só um sonho ruim aquele em que você ia embora e não voltava mais. Fica aqui. Cansei de acordar e não te ter por perto.  Não leva embora a minha paz. Sussurra no meu ouvido. Beija-me. Deixa esse gosto de sonho em mim. Deixa eu me ver refletida assim, no fundo dos teus olhos. Deixa eu te sentir assim bem de pertinho. Me deixa dormir.

Isabela Teixeira - Menina Paradoxo