Há uma mulher desconhecida em meu
espelho e eu fiquei arrogantemente incrédula na sua frente me perguntando: quem
é ela ou se já não a conheço. Penso por vezes que sim, mas estar meio indecifrável
reconhecê-la. Do nada o quebra cabeça se completa e me bate uma certeza de quem
se trata e tomo um susto. Viro o rosto e tento fingir desconhece-la, mas não consigo.
Como se não pudesse fugir das lembranças que ela refletiu em mim a encaro nos
olhos e vejo todas às historias que estão escondidas ali, no fundo dos olhos daquela
mulher que vejo. Nela a uma menina amedrontada escondida em meio a cacos e
poeiras de um caos incontrolável, dores semiapagadas, uma fonte de lagrimas já
seca, feridas quase cicatrizadas, chegadas e despedidas destrutivas, sonhos
calejados, magoas, frustações, caminhos desviados, tempos perdidos e um olhar
penetrante de desespero de quem já pediu muita ajuda e não conseguiu. A naquele
espelho alguém que já se afundou em tempestades de depressão por ter dando tanto
do seu calor que se tornou ar frio. Á perdão dentro daquela mulher, mas não esquecimento.
Tentei ignora-la mais uma vez, mas não consegui. Quis coloca-la no colo e segurar
todo aquele sofrimento, mas nada daquilo cabia em minhas mãos. Logo me veio certo
calafrio, pois dava pra ver um lago fundo e escuro se criando por dentro dela feito
de lagrimas pesadas e carregadas de um passado que não escorria para o lado de
fora. E de uma forma estranha ela me mostrava uma força destemida e determinada
em se segurar. Ela tentava imitar meu autocontrole e eu tentava ensina-la, mas
era algo que me parecia impossível. A mulher no meu espelho é meio indomada
naquela gaiola de vidro e chora por muito tempo no cato quase sem reflexo do
espelho tentando se esconder por lá, mas eu a vejo em prantos todos os dias e
mais ninguém. Vejo nela certa vergonha em apenas existir, em apenas sentir. Há momentos
em que seus olhos se voltam para mim e posso dizer que seu coração endurecido
se quebra com facilidade por lembranças de pessoas que não a deixam na memoria.
Eu vejo nela um cansaço por tanto tentar e por tanto sofrer. A mulher em meu
espelho sofre por me ver tão forte e dura na queda, por não me deixar abater e
seguir, e como ironia tenta se espelhar em mim como se eu lhe fosse à única criatura
confiável nesse seu mundo isolado. A mulher no meu espelho tem um olhar gélido e
frio que me assusta e por vezes me sufoca. A mulher do meu espelho ainda dói
por um amor falido, por um sonho destruído e por seus pedaços arrancados que foram
mastigados em miudezas e cuspidos na lata do lixo. Eu adoraria ajuda-la, mas quando
ela me olha de volta em pleno desespero tenho mais certeza de que nada nessa
vida é realmente fácil. Mas sei que o melhor para ela não faz mais parte do
passado. Ela precisa aprender nem que seja dessa pior maneira de que é preciso
lutar e nunca desistir, pois não quero vê-la mais como ela era antes. Sei que
estou sendo dura e que apesar do meu egoísmo momentâneo a dor alheia é algo
fora de cogitação, mas mesmo assim ainda acho triste e difícil aceitar seu
sofrimento. Acredito que ela existe para ser feliz, que merece se realizar e
acho injusto ver sua alma tão maltratada. É nessas horas que paro no tempo só
olhando pra ela no fundo do espelho e vejo que não perdi minha fragilidade
humana. Por mais que eu não queira acreditar não posso negar no que meus olhos
são capazes de ver. Que a mulher no meu espelho sou eu e o que eu fui
querendo ser com urgência o que eu ainda irei de ser.
Williane Santos
Williane Santos
Por vezes agente fica assim perante nós mesmos...ficando confusos com as transformações...sempre bom passar aqui e viajar..bj
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