"Sonhei que você
sonhava comigo. Parece simples, mas me deixa inquieto. Cá entre nós, é
um tanto atrevido supor a mim mesmo capaz de atravessar — mentalmente,
dormindo ou acordado — todo esse espaço que nos separa e, de alguma
forma que não compreendo, penetrar nessa região onde acontecem os seus
sonhos para criar alguma situação onde, no fundo da sua mente, eu
passasse a ter alguma espécie de existência. Não, não me atrevo. Então
fico ainda mais confuso, porque também não sei se tudo isso não teria
sido nem sonho, nem imaginação ou delírio, mas outra viagem chamada
desejo."
"Um passo para a frente e cem para trás. Retrocessos. Descaminhos.
Procuro sinais de algum amor teu. Vestígios de noites passadas. Tu não
me vês, estou incógnita a te observar. Como sempre estive, olhando pelas
janelas, de longe, coração apertado. Nós poderíamos ser amigos e trocar
confidências. Assistiríamos a filmes, taça de vinho nas mãos, e tu me
detalharias as tuas paixões e desatinos. Nós poderíamos ser amantes que
bebem champanhe pela manhã aos beijos num hotel em Paris. Caminharíamos
pela beira do Sena, e eu te olharia atenta, numa tentativa indisfarçável
de gravar o momento e guardá-lo comigo até o fim dos meus dias. Ou poderíamos ser apenas o que somos, duas
pessoas com uma ligação estranha, sutilezas e asperezas subentendidas,
possibilidades de surpresas boas. Ou não. Difícil saber. Bato minhas asas em retirada. Tu
dormes, e nos teus sonhos mais secretos, não posso entrar. Embora
queira. À distância, permaneço te
contemplando. E me pergunto se, quem sabe um dia, na hora certa,
nosso encontro pode acontecer inteiro. Porque
tu és o único que habita a minha solidão."
Ps.: Caio fez essas coisas para nós... quanto mais leio Caio fico assim toda boba com ele.
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Você lê e sofre. Você lê e sorri. Você lê e engasga. Você lê e tem arrepios. Você lê, e sua vida vai se misturando no que está sendo lido. Caio F. Abreu