sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Devaneio I - Minha Alma de Obesa


Sei que minha vida e o que eu sou não são da conta de ninguém (ao menos deveria ser assim). Mas vim aqui nesse começo de ano pós-carnaval falar brevemente ou talvez delongamente... tanto faz, sobre mim e meu mund(inh)o.


Quem se descrevi, se limita... ou é se define... sei lá, já li essa bobagem em um monte de lugar. Para mim quem não sabe para onde quer ir, quem não sabe ainda o que quer é que não se conheci e se limita.

Eu posso falar sobre mim todo meu bem e mal mil vezes e ainda faltara algum detalhe, algum pedaço que ficou no espaço. Por que a cada dia que se passa nessa terra eu me renovo, eu aprendo e me desprendo de tudo. Mudo toda hora, a todo instante sem deixar nenhum segundo de ser eu e sem aquela ladainha de essência.

Eu cresci sozinha em um mundo cheio de gente chata, de pouca felicidade e de falsa moral. Fui até bem educada. Sou mais parecida com meus pais do que eu gostaria. Resmungo sempre quando não posso mandar todo mundo para a puta que os pariu. Tenho baixa estatura, adoro um salto quinze. Sempre quis ver o mundo do alto e um salto sempre ajuda a ser notada, e ver além sem precisar abrir tanto os olhos e esticar tanto o pescoço.

Na tentativa de não ficar me exibindo por ai criei um mundo só meu, onde sai a tortos passos aprendendo tudo aquilo que não me convinha, mas precisava. Apesar de ter uma memoria pegajosa e detalhista eu me perco no numero e nomes das escolas que já estudei na vida. Foram varias. Conheci todo tipo de criança. Todo tipo de adolescente. Todo tipo de gente. Odiei minha adolescência, fase mais catastrófica que vivi até agora. Prefiro exatamente a fase em que estou, não sou daqueles que ficam sonhando ilusoriamente com o retorno a infância. Recuso-me da ideia de viajar em uma máquina do tempo. Gosto dos problemas da vida adulta. Gosto de querer ser independe em algum momento não tão distante. Gosto da ideia de ser responsável pelos meus próprios atos.

Ainda acredito que naquele dia ao qual eu fui concebida meus pais me fizeram muito mal feita. Acho que estavam bêbados ou foi alguma miserável rapidinha. Deveriam ter caprichado mais, e ai, eu poderia ter... mais cinco centímetros de altura, ser mais inteligente e poder criar algo ridiculamente idiota e viciante que me renderia milhões. Mas não. Tenho que me foder estudando, tenho que me foder trabalhando como a maioria. Saco. E ainda sou marrenta, briguenta, ousada. Odeio ser injustiçada. Brigo e grito de um jeito bem quietinho. Não sou barraqueira, mas já fiz uns dois ou três barracos... eu acho, ou não fiz porra alguma.

Eu me entupir na maior parte da vida. Eu sempre tive que economizar tudo, não querer tanto, falar menos, não demostrar medo, dosar nos pensamentos e andar com uma balancinha na mão equilibrando na quantidade de sentimentos. Eu não aprendi em casa a falar como é amar alguém. Eu sempre cortei o que eu realmente queria dizer da boca pra fora em meus textos. Sou de um tamanho por dentro que nem consigo medir. Tenho uma alma de obesa que sofre bullying o dia inteiro. Tenho defeitos idiotas, “medos bobos e coragens absurdas.”

Eu carrego um medo enorme de que tudo dê errado e que se abra um buraco imenso no chão e eu seja engolida sem piedade. Eu quero ao menos, me formar antes disso. Tenho medo por ter medo. E apesar de carregar esse encosto ruim eu não me deixo ser fraca. Não sou menos forte, menos corajosa por ter medo. Eu ainda me firo fácil com as maldades. Ralo a cara, o peito o corpo inteiro no chão mais a cada vez que retono eu me levanto cada vez mais rápido. Quando a pele sara fico mais áspera  por fora e demasiada de sensibilidade por dentro.

Sofro por antecedência. Tenho o mal da ansiedade. Vivo sempre na espera daquele momento, mas nunca sei que porra de momento certo é esse. “Eu sei de cor tudo o que tenho que fazer para dar certo, mas tenho medo da responsabilidade de ser notada.”

Com tudo que já passei eu ainda consigo ser ingenuamente inconsequente. Odeio me encaixar no padrão de ser igual a todas as mulheres. Tento sempre fugir disso, quero ser sempre diferente. Mas caiu na minha lorotisse e sempre acabo falando tudo igual, e agindo com as mesmas chatices e frescuras generalizadas. É um monte de Mimimi e outro tanto de Blablabá. É sempre ridículo. Saco.

Para uma mente fértil regada a estrume como a minha meia informação basta para uma paranoia inteira. Eu fico com vontade de ligar para ele depois de todos os meus pensamentos neuróticos, eu sempre fico querendo cobrar aquilo que aconteceu semana passada naqueles exatos minutos em que ele passou uma eternidade de tempo sem se comunicar comigo, sem contato visual... mas não faço, não posso ser uma psicótica e me contenho.

Ele nem desconfia, mas vem me ganhando nos detalhes. Com aquele jeito de soltar faíscas quase que toda hora e por me fazer rir com qualquer assunto serio. Se eu fosse só razão gostaria menos, mas ele me causa uma emoção tão grande por dentro que só consigo gostar a mais. “No fundo, mesmo lendo tanto, pensando tanto e filosofando tanto, a gente gosta mesmo é de quem é simples e feliz. A gente não se apaixona por quem vive reclamando e amassando jornais contra a parede. A gente se apaixona por esses tipinhos banais que vivem rindo. E a gente se pergunta: que é que ele tem que brilha tanto? Que é que ele tem que quando chega ofusca todo o resto?”

Adoro aquele jeito dele meio bossa e todo bobo. Tem um jeito tão dele que nem preciso idealiza-lo em coisa alguma. Me lembro sempre daquela cara de menino e quando olho ele deitado do meu lado enxergo a cara de um homem. E ele nem faz ideia do homem que se tornou, se acha só um menino, e que só tem muito a aprender e nem sabe que já aprendeu um monte e que tem um tanto pra ensinar. Eu me sinto tão segura nele que a única vontade que sinto todo dia é correr para o meio daquele abraço e de ter ele dormindo todo dia ao meu lado. É por isso que não posso ser burra, não posso perder as oportunidades. Não posso deixar ele em momento algum querer ir.

Só que tem um problema. Eu não consigo não ser desconfiada. Eu sempre espero tudo de todo mundo. Mais ele não é todo mundo. Eu repito. Só que desconfio ao ponto de a qualquer momento meter os pés pelas mãos. "Não consigo ser esperta antes de testar todas as infinitas possibilidades de ser idiota." Minha desconfiança é algo tão grande em mim, que posso dizer que chega a ser um dom. Mas é a miserável da minha ansiedade que me trava inteira e me faz cometer bobagens por antecedência... Eu não posso ser injusta. Fico me policiando a toda hora.

Eu sou a pessoa que desacredita do mundo e que precisa acreditar em alguém. Eu acredito nele.

Como diz Fernanda Mello... Amar é Punk!


Continua...


E sim, eu ando lendo muito Tati Bernardi!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Você lê e sofre. Você lê e sorri. Você lê e engasga. Você lê e tem arrepios. Você lê, e sua vida vai se misturando no que está sendo lido. Caio F. Abreu