domingo, 1 de maio de 2011

Um fim para um recomeço

Meses atrás pendurada num fio de nylon percebi que abaixo dos meus pés não havia chão, escalando a montanha gelada em desespero gritei, velozmente uma avalanche desmoronou sobre mim sem dó nem piedade. Sem respeito e consideração me vi sozinha, machucada, usada, suja, fria, sem algum progresso, sem pai nem mãe, sem amigos, sem alguém para amar, sem vida.

Percebi que estava morta, que tinha entregado toda minha vida em uma bandeja de doação de órgãos. O cérebro e o coração mesmo foram os primeiros a serem devorados no meio do caminho, ali mesmo no corredor do hospital a vista de todos. O restante que sobrou do meu corpo foi cortado em vários pedaços, congelado, e descongelado sempre que se tinha vontade de comer um aperitivo bem quentinho na birosca da esquina.

Foi mais ou menos assim que mina fonte da juventude secou, que perdi toda minha doce inocência.
Há alguns anos, lançaram encima de mim uma responsabilidade ao qual não era minha, mesmo assim encarei sozinha e cheia de medo, o desconhecido. Apavorada com o mundo, cai de cara nele por amor a aqueles que estão a minha volta. Me lasquei, me dediquei, dei meu suor, sangue ,trabalho, dinheiro, lazer, força, coragem, carinho, amor, amizade, respeito, consideração... dei tudo o que tinha, o que não tinha e o que eu não dei, me arrancaram a força com socos, pontapés e golpes de judô.

Meu erro foi um simples detalhe é que no meio do caminho esqueci um pacote lacrado com uma fita escrito “It’s my life” lá atrás.

Meus sonhos, vontades, desejos, foram sendo deixados de lado para dar prioridade a tudo que me impuseram a fazer.

Cada dia que se passava, o sentimento de solidão crescia, as feridas aumentavam e começaram a se tornar incuráveis. Chorei durante seis anos todos os dias sem nenhum intervalo. Minha dor não agredia ninguém, e o fato disto não incomodar, fazia-se de vários atos contínuos de humilhação, descaso, uso, desuso, covardia, molecagem, despeito, falta de respeito, inveja, agressões físicas e morais que me aterrorizam até então.

Briguei, e fui à busca de outra montanha sem gelo dessa vez, mais na diversão de jogarem pedrinhas em mim escorreguei, gritei, pedi socorro, lancei minha mão para que alguém me puxasse do penhasco, mais não apareceu ninguém, tive que te coragem mais uma vez para agüentar a queda, me esbulachei no chão e... rirão, isso mesmo fui zombada mais uma vez, ridicularizada, esculachada.

Decidi não aceitar mais isso no dia em que perdi aquilo que eu achava que tinha ou sei lá, aquilo que eu considerava coisa mais importante da face da terra. Foi o fim e o recomeço. Nesse mesmo dia poucas horas antes um choque da Realidade bateu ferozmente de raiva com a porta na minha cara e disse:

Ressuscita criatura, você não foi feita pra isso. A vida é curta vá vive - lá que isso é um direito seu. E sorry pelo olho roxo.

Perguntei pra Realidade, para que eu fui criada então?

Ela resmungou, vai saber, a vida é sua, abra a porta da rua e vá procurar imediatamente para que diacho você veio ao mundo. Só não perca mais seu tempo, pensando em quem não lhe dá seu devido valor, ignore tudo que lhe fez e faça mal, e aceite que nem a todos aqueles que você quer agradar, você ira agradar, mais que aquela maioria que esta lá fora, na rua a sua espera lhe fará uma grande surpresa, arisque, viva o presente, seja um pouco irresponsável que isso também é saudável. Se produzir agora é fundamental, corra para um salão já.

Engole o choro, respire fundo, sinal da cruz e pé direito na rua... E mais uma coisa, conselho é bom porque é de graça, então aproveite bem os que estou lhe dando e seja feliz, você merece.


Williane S.

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Você lê e sofre. Você lê e sorri. Você lê e engasga. Você lê e tem arrepios. Você lê, e sua vida vai se misturando no que está sendo lido. Caio F. Abreu