Eu não sei o que você pensa a meu respeito – se é que o fazes – mas quase acho graça quando fala que me conhece muito bem.
Você não sabe que tenho sonhos em preto e branco, e que conjugo o tempo pelo que sou quando estou dormindo e acordada.
Não sabe que nesses sonhos descoloridos há música francesa tocando no rádio e que eu não só consigo entender as letras, como sei cantar todas as canções.
Não imagina que o rádio dos meus sonhos só toca as músicas que gosto, e quando não há nada de bom tocando em nenhuma estação, o rádio se cala. E assim permanece por longos intervalos.
Já pensou como seria bom se eu fosse como esse rádio? Se tudo que eu falasse soasse como música aos seus ouvidos e se eu só falasse quando fosse para te dizer o que você gosta de ouvir?
É claro que já pensou, que já teve vontade de me calar a boca, o impulso de interromper bruscamente meus pensamentos tortos de tão certos a seu respeito, mas aposto que se viu recriando as minhas frases tolas na sua cabeça uma centena de vezes antes de dormir.
E você nem sabe dos julgamentos que faço intimamente, nem mesmo de ti, pois pensa que eu já te disse tudo, com esse meu péssimo hábito de dar voz a tudo que me passa pela cabeça, tantas vezes sem antes passar pelas vias do coração. Mas estou guardando o melhor pro final.
Você não notou que eu sou outra a cada dia. Você poderia ter se apaixonado por várias “mins”, mas só gostou de uma ou outra que se deu ao trabalho de conhecer. Poderia ter se deitado com várias mulheres e ter feito planos diferentes com cada uma delas. Você nunca teria se entediado se tivesse notado…
Quem me diria hermética? Qualquer estranho, mas não você, afinal, conhece-me como a palma dessa tua mão bonita que você nunca parou para observar direito.
Julga minha transparência como leitura fácil, mas não passou do primeiro parágrafo.
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Você lê e sofre. Você lê e sorri. Você lê e engasga. Você lê e tem arrepios. Você lê, e sua vida vai se misturando no que está sendo lido. Caio F. Abreu