Na Catedral III

Leia antes: Na Catedral; Na Catedral II

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- Sobre amor? Serio? De novo? Estou cansada de falar de amor, de ler sobre amor, de ouvir sobre amor, de escrever sobre amor. Amor me vem sendo uma PRAGA! Me desculpe o termo, mas é o que melhor se explica.

- Meu Deus que blasfêmia terrível, mas concordo com você. Explica muito bem sua feição em relação ao tema. Não digo rancor, mas uma singela raiva. Vem desdenhando o amor, por que o tem de mais. Precisa desabafar, vamos fale mais. Lembro que da outra vez que a encontrei aqui dizia não amar mais alguém e que um novo amor a afligia. Comece me contando o que se sucedeu depois de nossa conversa.

- Hum. Bom depois de nossa conversa, a transformei em um texto e que releio às vezes, procurando respostas. Criei um blog na internet e despejo minha tolices lá. É bem melhor escrever, do que jogar tudo na cara de alguém que lhe enche de conselhos loucos, sem fundamentos...

- Interessante continue. (me olhando atencioso e meio fascinado, esclarecendo, esse padre é um louco por historias de qualquer gênero)

- Certo. Aquela pessoa que eu disse que apareceu na hora errada, bom, ela nem deveria ter aparecido, se tivesse a conhecido mais, não teríamos tido nada, com uma grande certeza. Mas como me disse da outra vez, acho que tinha que acontecer, tanto pra mim quanto pra ele. Eu vinha muito fria, não ligava pra mais nada, estava fazendo coisas que digamos assim eram erradas. Que não me levariam a nada, que não me acrescentaria em nada e não me vinham fazendo bem algum.  Ele queria me fazer de um amor tão grandioso ao ponto de dizer que eu era sagrada. Ele me falava tanta coisa, que me atordoava. Sentia que a cada dia ele criava uma expectativa em cima de mim muito grande, como se eu tivesse que superar alguém. Eu como o senhor lembra, dizia que não amava mais um tal alguém. O que era de uma mentira de perna tão curtas quanto as minhas. Lembrava dele todo  dia e tentava esconder esse fato de mim mesma. A cada coisa que me acontecia aparentemente de ruim o culpava. A raiva me tomava o corpo... na verdade um ódio que chegava a doer me tomava conta de um jeito que me deixava numa vergonha por ainda ama-lo. Não vou dizer ao senhor o que aconteceu no dia que ele me disse a adeus por que não gosto nem de lembrar de tão feio que foi. Que por sinal não foi um dia, foi dois dias de adeus. O que eu posso dizer é que foi um dos piores dias da minha vida. Foi dois dias de crueldades, ofensas, humilhações desnecessárias, sem sentido. Fiz uma coisa que não queria e feridas ali foram abertas. Entrei num estado de choque tão grande que depois que ele me virou as cotas a lagrimas secaram e só vinheira a voltar quando esse outro alguém me veio com palavras que me lembrava as dele... Aff estou falando muito...

- Não se incomode com isso, vamos fale. Você veio aqui pra isso. Na hora certa eu irei interromper se for necessário. Ok?

- Ok! Então... (respirando fundo) sofri, e sofri muito até aceitar a realidade. Preferia sofrer por outro ao acreditar que sofria na verdade por ele. Chorei lagrimas que gritava sendo por outro, sendo que as lagrimas eram só dele. O acusava por eu estar sofrendo por outro. O acusava por  me ter feito a ficar com outros. O acusava, por que ele era o errado da situação e eu escutava acusações e insinuações por conta dele. Fui acusada pelos meus próprios pais de o trair. Antes de começar a namorar com o novo rapaz, aconteceu um briga em casa que me acarretou mais ódio por ele. Estava me preparado para sair mais uma vez, pra uma festa qualquer, até ser barrada. Meus pais gritavam que eu não sairia mais, que estava proibida. Eles achavam não sei por que, que ainda me encontrava com ele, e por isso me deixavam sair a qualquer lugar. Quando perceberam que isso não acontecia criaram uma historia sem pé nem cabeça. Eles me acusavam de tê-lo traído e por isso ele havia me deixado. Que ele tinha descoberto tudo. Minha irmã ficou com tanta raiva com que eles me diziam que me acolheu e se meteu no meio da briga. [...]– Sabe o que isso, você ser acusada assim, sem ter feito nada, já era pouco o que eu sentia e ainda tinha que ser acusada? Meus próprios pais o defendiam, pois ele era o rapaz bonzinho que jamais seria capaz de fazer uma cafajestagem. Era tão bom que seria capaz de fazer uma cachorrada. Claro que só podia ser por culpa minha. Eu que já era a mentirosa a safada mesmo e tantas outras coisas, ser ganheira era o obvio... (comecei a chorar e disse que era melhor eu ir embora, não queria ficar ali sentindo olhares e o padre me levou a sacristia).

...

- Aqui é melhor menina, ficaremos mais a vontade. Tem tantas coisas presas, que precisam ser soltas. Realmente você precisava vim ate aqui. [...] O que aconteceu depois da briga com seus pais?

- Eu e minha irmã passamos mais de um mês sem falar com eles. Eu não dizia nem um pio. Fiquei mais fria e dura. Conheci tal pessoa, comecei a namorar. Fato este que meus pais nem sabem que aconteceu. Não deu certo, me frustrei atoa. E agora lembranças de momentos que haviam desaparecido, me atormentam. O que eu faço, escrevo tudo e jogo na internet a vista de qualquer um. Mais me alivia muito. [...]

- Mas me diga o por que de tais lembranças terem desaparecido e por que da outra vez me dizia com uma certa convicção que não o amava mais?

- Não sei. É complicado explicar... não lembrava de nada, tentava puxar uma lembrança de algo que fazíamos e elas não vinham. Só lembrava dele, do rosto dele, da existência dele, mas... deixe eu ver como eu posso explicar... o beijo... o beijo dele eu não lembrava mais. Como era tocar nele, eu não lembrava mais. Não conseguia me lembrar de coisas que fazíamos. Por isso acreditei não o amar mais, eu acho.

- E ele, depois do fim do relacionamento o que fez?

- Nada! Nada de útil, nada de surpreendente para o novo tipo idiota dele.

- Explique melhor...

- O senhor estar me parecendo um psicanalista.

- Criança ser padre nós leva a esta função às vezes. Aprendemos a escutar para melhor ajudar. Continue.

- Ok então. Continuando sobre o nada. Ele só fez aparentemente nada. Ele só começou a colocar fotos mostrando todos os dentes do lado de gordas vagabundas. Coisa que ele não fazia quando tirava uma foto comigo. Era sempre serio. – Desculpa, posso falar vagabundas?

- Não é muito bom, mas não me assusta... é pode.

- Então, praia, jamais ia comigo e começou a ir com tais vagabundas. Ir a shows e festas comigo, jamais. Mais com os novos amigos e as vagabundas, ele ia e vai. E como um novo costume tirava fotos e expunha pra todo mundo ver. Olha sou feliz, olha sou de mais, olha eu pego geral. Um retardado! Virou um babaca! E as frases, fotos ou qualquer merda que ele jogava em redes sociais na internet, chegavam a mim por fofoqueiros. Eu nem precisa procurar nada, coisa que me privei a fazer. Não o excluir de nada, apenas bloquei para não ter que ver. O que não adiantava, pois sempre tinha alguém que já vinham e me dizia. Explicando melhor, as atitudes dele, não me devia mais como satisfação, mas me desrespeitavam e desmoralizava aos montes. Fora o fato dele me comparar as vagabas de alguém próximo a ele, e me apagar de tudo como se eu não fosse nada. O que ele me fez foi isso, foi embora me trocando por amizades cretinas e por qualquer uma que ele pode pegar em qualquer lugar. Me disse também que iria me fazer odiá-lo de um jeito que eu iria deixar de gostar dele. O que não aditou em nada. Hoje não nos falamos mais, mais lembro dele em todos os instantes, ao ponto de sentir saudades e sinto raiva por isso. Tudo que era bom, se tornou nada [...] Me diz tem como querer gostar de alguém assim? Tem como aceitar ainda amar alguém tanto?

- Filha para os propósitos de Deus, sim. Para sua dor não. Entendo um pouco seu desespero em não querer mais ama-lo como ama. Digo pouco, por que jamais saberei tudo que você senti ai dentro. Também fez o certo em não ouvir certas opiniões e dividir com as pessoas. – Por não saberem muito bem como lidar com as próprias, lhe acarretaria mais confusões e a faria ainda mais um mal desnecessário. E achei muito suspeito da outra vez, tudo que me dizia. Sentia em você um rancor muito forte, que escondia algo de que tinha medo. Olha menina para um amor machucado existe só uma cura. O perdão. Sei que é difícil, mas não impossível. Não direi que ficarão juntos. Não direi também que isso jamais ira acontecer. Deus nos causa certos infortúnios nas linhas que já estão tortas, com o único proposito de acertar os nossos passos. Lembro que me perguntou “se amor que não é alimentado morre?”. Essa pergunta não se dirigia ao tal rapaz que namorou depois não é?

- Não.

- Suspeitei desde o principio (risos). Você estava questionando seu próprio amor né isso?

- Sim, mas por que a pergunta?

- Simples cabeça dura. Lembra que também te disse que amor verdadeiro nunca morre apesar da distancia?

- Lembro.

- Então acompanhe o que irei te dizer. Teu amor por ele jamais morreu. Já mais poderá amar outro enquanto este permanecer vivo dentro de si. Não tente matar previamente o amor. Na verdade ninguém consegue matar um amor. Às vezes sua verdadeira essência permanece por toda uma vida. Acreditam que novos amores superam outro, o que é verdade às vezes. Mas não é uma certeza. - Há pessoas que vivem determinados momentos em nossas vidas para nos ensinar algo e nos prepararmos para outras. Há outros que jamais veremos novamente. Há pessoas que precisam ir para um dia voltarem. Por vezes Deus separam pessoas por propósitos que estes são incapazes de se compreender. Elas precisam aprender como é existir sem elas. É um processo doloroso, mas que eleva o amor para deixar de ser um ato para se tonar fato. Amor não é embrulhos de papel, amor é sentimentos invisíveis para ser vivido. Como Deus, certo?! Quando se perde essa noção Deus nos dar uma lição. Precisamos crer para ver. Sei que você não quer acreditar que um dia vocês poderão ficar juntos. Seria muito mais confortável para você se não sentisse mais nada por ele. Mas se senti, não tenha vergonha por tão fato. Não seja ingênua e sinta o que deve se sentir. No meio do caminho encontrará fé, esperança e força. Continue andando. Respeite teus próprios sentimentos seguindo sempre em frente. O que é necessário pra ti estará lá quando menos você esperar. Deus escreve por linhas exageradamente tortas, cheias de buracos profundos como virgulas e reticencias intermináveis. Quando ele virar uma pagina você ira se surpreender! Ele e você são os autores de sua própria vida e sim, vocês podem trazer personagens antigos à tona. Ame... ame sem medo de amar. Só alcança o amor quem possui coragem e só se tem coragem quem vence o medo!

...

- Tudo muito lindo. Mas não me aliviou em nada!

- Criança pare de ser tola. Tudo se precisa de tempo. Deus criou o tempo para que?

- Não sei.. sei lá. Minha cabeça estar fervilhando...

- Deus criou o tempo para dividir, ensinar e sentir. O tempo divide os momentos que acontecem e irão acontecer ainda em nossas vidas organizado tais realizações no passado, presente e futuro. Nos ensina lições para nossa sobrevivência através muitas vezes de infortúnios e de pequeninas coisas que só aprendemos quando passamos a enxergar o mundo tal como ele realmente é. E esse mesmo tempo é o que nos faz sentir tudo ao longo da vida.

- Já sei, nada como o tempo para resolver. Já escutei essa de que com o tempo irei esquecer[...]

- Menina esqueça isto... as pessoas criam um grande equivoco em relação ao Tempo. Ele jamais supera um amor. O amor é que supera o tempo!

Continua...